A MÚSICA É SEMPRE, O FUTURO É AGORA
Não é o Brasil que explica a música, é a música que explica o Brasil. Nosso melhor produto de exportação é também a trilha da nossa memória coletiva e afetiva, a crônica da nossa história e costumes, a espinha da nossa identidade cultural. Infelizmente, nos últimos 30 ou 40 anos, a combinação de certos descaminhos culturais, políticos e de mercado criou fissuras e incompreensões. E o que cabe agora não é atritar e demonizar, mas superar e aproveitar uma oportunidade histórica.
A caminho da oitava edição da Feira da Música de Fortaleza, para onde convergem representantes da cadeia produtiva da música do Brasil e de suas associações, não podemos deixar de ver com bom-senso e simpatia esse momento de forte reorganização. É preciso circular, articular, dar a cara a tapa, fazer música, apresentar música, gravar música, distribuir música e, principalmente, retomar algo que décadas de “crise de identidade cultural” (para não bater na tecla enfadonha da “crise de mercado”) nos desensinaram a fazer. Falamos em… confiar.
Em apoiar as tentativas de redignificar o poder público. Em apostar que há mesmo a conjunção de um forte impulso de organização na cadeia da música com um momento criativo excepcional. Temos visto até na grande imprensa certas matérias, confirmadas nas impressões boca-a-boca, que traduzem uma sensação – ainda difusa, mas que pode ser alimentada – de que a música popular brasileira está entrando em uma nova era de ouro. Os velhos e os meninos estão aí, a MPós-B veio para ficar.
Essas últimas décadas pulverizaram nossa percepção saudável do processo, com polarizações desgastantes – lucro versus criatividade, música popular versus qualidade, raízes ortodoxas versus underground alienado. Nada disso é verdade absoluta. Estamos na tarefa de refazer todas essas pontes.
Olhemos à nossa volta: já há marketeiros entendendo que cultura é boa para a imagem das empresas, e aceitam uma relação honesta e respeitosa com os criadores. Já há bandas de música instrumental com influência regional fazendo o melhor disco pop do ano. Já há debates, seminários e articulações em que os representantes de instituições do governo estão entre os participantes mais jovens, sensatos e arejados. Já há roqueiros de estados distantes (distantes de que, cara pálida?) que estão entre os interlocutores mais politizados e confiáveis da cadeia produtiva.
A Feira de Música de Fortaleza chega à sua oitava edição com essa perspectiva, de cumprir seu papel nesse momento único. Já há – como na verdade sempre houve – música de todas as extrações, influências, cores, idades, inclusivas ou especialistas, de tecnologias ancestrais ou futuristas. Mas hoje essa música é de todos para todos, estejamos à altura dessa música. Se por algumas décadas aprendemos a ver nosso país como corrupto, oportunista, argentário e ignorante… então estamos no meio de um verdadeiro milagre. Vamos lá aproveitar os milagres.
DEIXO O SOM AQUI UM RAP MASSA DA PERNAMBUCANA ARRETADA LÍVIA CRUZ:
http://www.4shared.com/file/73687162/a8bfad09/22_Mel_e_Dend_-_Livia_Cruz.html?s=1
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